Quanto tempo dura a raiva que você tem?
Lembra de que enquanto durou
Ela foi sua, e não de quem lhe causou
Ter raiva de alguém é guardar algo do outro em si
Eu sei que tem coisa difícil de engolir
Até a gente perceber que os desaforos dos outros,
Também são deles, então, é com eles que vão ficar
Porque pra minha casa eu não vou mais levar
Quantas vezes eu devolvi a grosseria
Para vencer a discussão
Mas diante do espelho me sentia derrotado
Por ter perdido a razão
É como se a gente fosse uma árvore
Que se alimenta do próprio fruto
Mas também é responsável pela sombra que projeta diante da luz do outro
Hoje em dia o meu ciclo é assim:
Eu só recebo o que daria para mim
Por isso eu estou aprendendo
A supostamente perder por um momento
Para certamente vencer o arrependimento
Eu sou aquele cara que esfria a cabeça
E percebe que não devia ter falado,
Por saber que melhor maneira de encerrar uma briga
É não ter nem começado
Para não ficar abraçado no passado
Por não ter dado o braço a torcer
Chega uma idade em que querer ser o dono da verdade
É não ter amadurecido
E só ter escolhido envelhecer
Estar certo não é ter que provar que o outro está errado
Pra mim ainda é complicado,
Mas a cada briga eu percebia
Que essa tal de valentia
É questão de inteligência
Enquanto o valente se debatia
Ensinava paciência
Aquele que nos joga pedra está tentando agredir
Para dividir a ferida que carrega
Quanto mais a gente entende isso
Mais se cura da própria dor
É isso: aquele que não devolve na mesma moeda
É porque sabe o seu valor
Texto: “Árvores” - @allandiascastro
Trecho da página 155 do livro A Monja e o Poeta, no capítulo sobre raiva.
Neste texto Allan Dias Castro nos mostra uma lição importante sobre quanta bagagem de sentimentos ruins carregamos, e o pior carregamos sozinhos. Por vezes prevemos a necessidade de revidar ofensas e magoas, como se esse fosse o caminho da cura emocional, é como se desse modo fossemos nos curar mesmo das feridas causadas por outras pessoas, quando na verdade isso só nos toma tempo e causa dores desnecessárias. Calar não é consentir ou concordar, calar é não deixar que a opinião do outro nos tire o sossego ou defina quem somos.
Quando finalmente compreendemos que quem somos depende apenas de nós, deixamos de perder tempo com discussões, brigas e diálogos desnecessários que não vão levar ninguém a lugar algum e por outro lado tomamos posse da nossa razão, o que não significa que o outro esteja certo ou errado, significa apenas que eu respeito a opinião do outro, mas tenho inteligência emocional, que me permite internalizar apenas o que vai contribuir positivamente em minha vida...