As noites frias têm um jeito especial de nos lembrar da nossa própria existência. Sentada no sofá, envolta em um cobertor que mais parece um abraço, vejo as notícias passarem na TV. O aeroporto, dizem, só voltará a funcionar em dezembro. Dezembro! O pensamento me exaure, a ideia de meses sem poder viajar, sem a possibilidade de um escape rápido, pesa mais do que o próprio inverno.
Olho para fora, a cidade parece suspirar em silêncio, cada janela acesa guarda uma história, um segredo. A solidão se apresenta não como uma companhia forçada, mas como uma escolha deliberada. Lembro-me das amizades passadas, das risadas vazias em bares lotados, das conversas que nunca passavam da superfície. Fúteis, diria. Decido que ficar sozinha é um ato de amor próprio, uma proteção contra a superficialidade que tanto me cansa.
O telejornal segue, agora falando de política, de economia, de um mundo que parece girar mais rápido do que deveria. Mas estou longe de tudo isso, envolta em minha bolha de isolamento. Há uma paz intrínseca em não precisar lidar com a falsa camaradagem, em não ter que sorrir para disfarçar o tédio ou a frustração.
Escolher a solidão é, de certa forma, um ato revolucionário. É reivindicar o direito ao silêncio, à introspecção. É permitir-se sentir o frio lá fora sem precisar fingir que ele não existe. É saber que, mesmo em meio ao caos, há uma quietude interna que ninguém pode roubar.
Enquanto a noite avança, sinto-me mais viva. A exaustão não vem da notícia do aeroporto fechado, mas da vida cheia de ruídos desnecessários. Prefiro o murmúrio do vento lá fora ao burburinho das vozes que não dizem nada.
E assim, envolta em meu cobertor, agradeço ao frio por me lembrar que, às vezes, a solidão é o melhor refúgio. E que, em meio à escuridão e ao silêncio, posso sempre ouvir a mim mesma.